Já o faço há um ano.
Num destes dias vi na televisão um filme sobre "Protecção de Princesas" e a certa altura a suposta princesa de Costa Luna saiu-se com uma frase que me fez pensar.
- Pensas que lá por ser uma princesa, a minha vida é um conto de fadas?
Cada um tem, todos os dias, de carregar a sua cruz e a Joana arrasta a sua. ( Lá estou eu a ser dramática e a fazer-me de vítima! )
Ser barmaid NÃO se trata só de ter bebidas à pala, poder pagar bebidas aos amigos ou àquele rapaz que nunca tinha aparecido lá mas é "bem giro", conhecer toda a gente que frequenta o bar, saber o nome de cem bebidas diferentes e vinte marcas de wisky e vodkas e aprender a fazer os shots com camadas sem que estas se toquem. Ser barmaid não é só poder ter contacto privilegiado com DJ's e membros das bandas que tocam ao vivo. Ser barmaid, é tãão mais complicado que isso.
Sabes o quanto me custa, por vezes, trabalhar num espaço nocturno ? Mesmo a pessoa que não tem por hábito sair de casa ao fim de semana, sai. Então, nós não saímos. Se tivermos a (in)felicidade de a nossa data de aniversário calhar a uma sexta ou a um sábado, somos obrigadas a movê-la para uma quinta ou um domingo - sim! - só para não faltar ao trabalho. E o que há aberto a uma quinta normal ou a um domingo? Pois, nada. Pronto, menti. Nós também saímos, claro. Mas isto, depois do bar fechar, e não é propriamente quando a noite está em alta, visto que a hora de sair é, habitualmente, das 4:30 às 6 da manhã.
Óptimo é quando a noite é fraca e nos preparamos para sair umas horinhas mais cedo - isto é, às 3 e pouco. Pensamento: "VOU PODER IR DAR UMA VOLTA A UM SÍTIO DIFERENTE HOJE". Nesse momento, têm de entrar 5, 6 pessoas no bar. Uns não vêm só beber um copo. Vêm comer hamburgueres. Outros entram e bebem alguma coisa que eu costumo assinalar no cartão como espirituosas, cubata ou wisky novo. E claro, nós temos de ficar lá, até ao senhor último cliente ir embora. Ainda gostava de saber o que faz as pessoas entrarem num bar que se encontra completamente vazio, às 3 e tal da manhã.
Quando o bar está cheio, não tens tempo nem para beber água. Se puseres a garrafa à boca, vais ser interpelado por alguém que te vai mandar fazer alguma coisa. Coisa essa que pode não passar de arrumar copos, uui!, coisa urgente - e tu entretanto tens de te esquecer que tinhas sede. Ou então quando tens mesmo de ir à casa de banho mas vês o balcão com tanta gente que não podes sair. Se fores, já sabes que quando voltares vais ter alguém a gritar contigo mesmo que digas que "foste só à casa de banho".
Se és rapaz, ficas a saber que não soa bem tentares impingir que nos apresentemos aos teus amigos. Aquelas frases do tipo "O meu amigo quer-te conhecer" para além de me irritarem, se forem ditas sempre que passo ao teu lado, não facilitam que consiga trabalhar. Pensava que isso era óbvio, mas parece que para um número considerável de pessoas, não é. Ah, e escrevam isto, é péssimo quando dizem que estamos melhor vestidas que as colegas ou que elas esão melhor vestidas que nós. Ou até mesmo que estamos demasiado arranjadas. No que toca a mim então, é desnecessário. Visto que não me maquilho, não entendo como é possivel estar demasiado arranjada.
Não, o bar NÃO É MEU. Logo, ficas sabendo que, se eu te pagar um bebida, naturalmente vai ser descontada naquilo que eu ganho durante a noite. Se fores melhor amigo já sabes que é na boa, nem me importo se não for um abuso. Se fores apenas meu conhecido, é quase impossível convenceres-me a pagar alguma coisa. Não te esqueças que a frase típica "Não pagas nada?" só te beneficia mesmo a ti. A mim, tira-me parte daquilo que me fez ir para o bar. Como lá no bar servimos à mesa, podes sentar-te e pedir. Agora, não será um abuso quando estão pessoas ao balcão para te servir e tu passas e vais para a esplanada e esperas o momento em que tivermos a bandeja mais cheia para pedir?
Se eu não soubesse como é isto que faço, e fosse uma pessoa sem este tipo de esperiência, claro que pensava o que tu estás a pensar agora:
"Mas olha lá, se é assim tão mau, para que é que trabalhas lá?"
Se não percebeste que a intenção do meu texto foi poder explicar porque é que por vezes andamos indispostas e não falamos ao cliente da melhor maneira, então volta a ler.
7 comentários:
Como sempre, adorei.
Acho que aprendi a dar um pouco mais de valor a situações idênticas à que descreves no texto. (e olha que, segundo consta, é bastante difícil fazerem-me ver as coisas por outro ângulo e fazerem-me dar o braço a torcer). Expões bem o teu ponto de vista e fazes ver o quão stressante é, por vezes, fazer aquilo que é necessário.
Beijinho :)
Se há uma coisa boa no bar onde trabalhas é que todas as barmaids estão sempre bem dispostas.
É sempre um prazer entrar no bar, dirigir-me ao balcão e vocês terem sempre um sorriso para dar. Sim, desconfio que seja um cliente fácil e que haja alguns que só apetece espetar com as garrafas que tens na mão pela cabeça abaixo.
oh redondo, ate podes ser facil mas quem olha para ti apetece logo dar com uma garrafa por essa cabeça abaixo
obrigado por me teres ensinado e continuares a ensinar a estar lá a trabalhar contigo . sem ti não é a mesma coisa e vi isso no sábado que não foste .
e já agora adorei o comentario do redondo.
Diana Amado.
oh Diana aprende a trabalhar
Olá!
andava aqui no google e "encntrei" o teu blogue. Li o que escreveste e de certa maneira inspirou-me :)
Como aprendeste a ser barmaid?
Isso vem com a experiência, com o tempo, Helena (:* beijinho
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