Passam dias sem que eu saiba o que escrever.
Tento fazer uma reportagem fotográfica com poucas palavras, tudo à base de imagens paradas, estáticas, transversais a tudo o que sinto.
A única beleza que eu lhes vejo é do efeito causado pela maior ou menor incidência do Sol.
Eu já não sei escrever. Tenho saudades do tempo em que pegava numa folha de papel, mesmo rasgada, e a enchia de letras. Grandes, normais, pequenas, pequeníssimas, - gradualmente - à medida que o espaço ia escasseando.
Já não sei o que é um neologismo - sei, mas não sei criar mais palavras - daqueles que dava gosto anotar. Já não sei porque me perdi. Perdi o campo lexical do vocábulo amor. Quando escrevo a palavra, soa-me vazia.
Sempre me perdi por amar demais. Hoje quero amar e não sei como o fazer.
Tenho saudades daqueles amores que tinham o gosto da laranja cortada em pedaços da minha avó. Aquela com um suave toque de açúcar por cima, quando as crianças dizem não gostar de comer fruta. Tenho saudades do sumo! As minhas laranjas, por muito açúcar - em pó - que tenham, são sempre metade secas por dentro. Digo em pó, porque todo o açúcar que coloco na metade da laranja com sumo, acaba por ser sugada por outra pessoa, desaparece, como pó.
Já não sei o que é chorar por amar alguém. A última vez que chorei deve ter sido há uma infinidade de tempo, porque não me lembro. Ou lembro, mas não quero contar. Agora veio-me à memória que a regra, quando se escreve, é tentar de tal forma deturpar a verdade que seja apenas agradável à leitura.
Eu não choro, nunca choro.
Mas tenho saudades, saudades da minha avó, que tanto me dizia para gostar de ti, minha laranja - INTEIRA - com sumo.
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